Cláudia Menezes
Autismo, seletividade alimentar e preconceito: Compreender para incluir

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento de milhões de pessoas no mundo. Dentro desse espectro, há uma ampla variedade de características, sendo a seletividade alimentar uma das mais comuns e, muitas vezes, mal compreendidas.
A seletividade alimentar no autismo não é uma simples "birra" ou preferência alimentar passageira. Trata-se de uma condição multifatorial, que pode envolver hipersensibilidade sensorial, dificuldades motoras orais ou até mesmo associações negativas com determinados alimentos. Crianças e adultos autistas podem rejeitar alimentos devido à textura, cor, cheiro, temperatura ou apresentação. Essas características são fundamentais para entender que não se trata de teimosia, mas sim de uma resposta real a estímulos que podem ser extremamente desconfortáveis.
Infelizmente, a falta de compreensão sobre esse comportamento alimentício frequentemente resulta em preconceito e julgamentos equivocados por parte da sociedade, principalmente restaurantes e comércios.
Tenho recebido relatos de mães que vão aos estabelecimentos ou dúvidas pelas redes sociais e acabam sofrendo preconceito. Em novembro desse ano, fui a um food park localizado em São José, onde havia uma sorveteria. Uma mãe, acompanhada de seu filho autista, foi até o balcão e pediu que fosse vendido somente o creme de avelã, já que seu filho era autista e na seletividade alimentar não gostava do sorvete. Havia mais de um atendente e nenhum teve empatia. Responderam que não poderiam vender. A mãe argumentou que pagaria o mesmo valor cobrado pelo sorvete com creme de avelã e mesmo assim negaram. Eu vi a cena e eu mesma mandei mensagem ao food park e também para a sorveteria. O food park respondeu com uma mensagem que parecia automática: “Olá, boa noite, Claudia! Obrigado pelo feedback, iremos alinhar. Esperamos que tua noite tenha sido agradável aqui no Santa Villa, volte sempre! 🥰”, ou seja, como se não fosse com eles.
Já a sorveteria perguntou se foi informado que a criança era autista e que iria conversar com os funcionários. Porém, argumentei que, se tivessem o mínimo de empatia, nem precisaria dizer que a criança era autista. Enfim, falta preparo de quem lida com o público.
Essa semana recebi mais um relato. A família, pronta para ir ao restaurante na Palhoça, resolve ligar para perguntar se o filho autista de 6 anos tem desconto. Eis que o restaurante responde que: “Nesses casos específicos, é necessário falar com nosso gerente ao chegar no restaurante, pois ele analisará o caso com toda a atenção e verificará as possibilidades”. É sério? O gerente fez medicina para avaliar quem é autista ou não? E mais do que isso, ir até o local para submeter uma criança à avaliação de alguém? Gente, 2024!
É essencial haver mais informação e empatia em relação ao TEA e suas particularidades. É mais do que necessário que profissionais que lidam com o público recebam capacitação para isso. O diálogo aberto, o apoio profissional adequado e a disseminação de informações precisas são ferramentas importantes para combater o preconceito e promover uma sociedade mais inclusiva.
A compreensão começa com a disposição de ouvir, aprender e respeitar as diferenças. Não faço aqui um movimento contra os estabelecimentos, mas um alerta para que situações como essas não sejam registradas novamente. Empatia, meu povo, empatia!
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