O deputado federal Hugo Mota (Republicanos) se tornou o mais jovem parlamentar a ocupar o posto de presidente da Câmara dos Deputados, com 35 anos. Motta obteve 444 votos, a segunda maior votação para um presidente da Câmara. A primeira foi a do seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), com 464 votos em 2023.

O deputado paraibano consolidou um amplo apoio entre partidos da base governista e da oposição. Dos 513 deputados, 499 votaram. Marcel van Hattem (Novo) teve 31 e Pastor Henrique Vieira (PSOL) teve 22 votos.

Eleito deputado pela primeira vez aos 21 anos com mais de 80 mil votos pelo PMDB, Motta é herdeiro de um clã político da Paraíba. O pai, Nabor Wanderley, também do Republicanos, é prefeito do município de Patos (PB), no sertão da Paraíba, está em seu 4º mandato.  Francisca Motta, avó materna, atual deputada estadual já foi prefeita da mesma cidade assim como seu avô, desta vez paterno. Em 2015, quando a avó era prefeita, a mãe do deputado, então chefe de gabinete, mas já havia ocupado também a Secretaria de Saúde teve uns “problemas” por desvio de dinheiro público. Assim como o pai, que já foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa e teve os direitos políticos cassados pela Justiça, na época recorreu e se elegeu deputado estadual.

O congressista era um ilustre desconhecido, baixíssimo-clero, até ser indicado pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha, para presidir a CPI da Petrobrás. Meses depois, a comissão presidida por Motta aprovou o parecer do relator Luiz Sérgio (PT-) sem indiciar qualquer parlamentar citado na Operação Lava Jato que apurava corrupção na estatal. Hugo Motta é cria do centrão, pupilo do ex-deputado federal Eduardo Cunha, nos últimos anos foi conquistando espaço e mostrando que o investimento feito lá atrás pelos grandes caciques políticos do país valeu a pena. 

Para alcançar o respeito fez base dos governos Dilma, Temer e Bolsonaro. De acordo com o Radar do Congresso, Hugo Motta votou conforme a orientação do governo Lula em 86% das vezes.  

Motta se apresentou como um estadista falando mais de 20 vezes a palavra democracia e não economizou referências ao grande líder dr. Ulysses Guimarães, fazendo inúmeras referências ao pai das Diretas. Em seu discurso de posse, não apenas reafirmou compromissos com a democracia e a independência do Legislativo, mas também deu recados importantes ao Executivo e ao Judiciário, indicando a direção que sua gestão pretende seguir.

Um dos momentos mais marcantes do discurso foi quando Hugo Motta ergueu a Constituição Federal e repetiu a frase histórica de Ulysses Guimarães: "Tenho ódio e nojo à ditadura". Ao fazer isso, o novo presidente da Câmara buscou se associar ao legado democrático do líder da redemocratização brasileira. Esse gesto pode ser interpretado como uma sinalização de que não haverá espaço para qualquer projeto autoritário ou retrocessos institucionais sob sua gestão.

O posicionamento firme contra a ditadura, aliado à menção ao filme "Ainda Estou Aqui", reforça a ideia de resiliência democrática e de compromisso com os valores republicanos. No entanto, esse discurso também pode ser lido como um recado ao bolsonarismo e a qualquer tentativa de questionar a ordem constitucional.

Outro ponto que se destaca do discurso foi a defesa da autonomia do Congresso Nacional. O presidente enfatizou o papel da Câmara no controle do Orçamento e na garantia de suas prerrogativas, destacando que o Legislativo deve ser protagonista das grandes decisões nacionais. Um claro recado ao governo Lula e ao Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente em um momento de debates acirrados sobre o uso das emendas parlamentares e o controle do Orçamento pelo Congresso.

Ao afirmar que a Câmara "não será subserviente a nenhum poder", Motta demonstra que pretende manter uma postura independente, evitando ser apenas um aliado passivo do Executivo. Acredito que mesmo sendo um deputado conhecido pelo diálogo, poderá representar desafios para o governo Lula, que terá que negociar de forma mais intensa para garantir a aprovação de suas pautas.

Importante observar também que a eleição de Hugo Motta representa um momento de fortalecimento do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal e presidido por Marcos Pereira. Com a nova posição, o deputado paraibano se consolida como uma das jovens lideranças do Congresso e reforça a influência do partido e das regiões norte e nordeste nas decisões legislativas.

Seu perfil pragmático e sua habilidade em negociar alianças foram fundamentais para que ele alcançasse a presidência da Câmara. Agora, resta saber como ele conduzirá a Casa diante de temas polêmicos em tempos em que se prioriza os likes em busca de votos em detrimento de projetos de país, onde tanto a Câmara Federal, quanto o Senado, deveriam enriquecer o debate público acerca de temas de interesse coletivo. 

Em seu discurso de posse de Hugo Motta quis deixar claro que sua gestão à frente da Câmara dos Deputados será marcada pela defesa da independência do Legislativo, leia-se com isso, controle cada vez maior do orçamento público. Porém, ao mesmo tempo que acena para a institucionalidade democrática, Motta também precisará equilibrar interesses diversos e navegar entre pressões políticas complexas. 

O futuro dirá se ele conseguirá consolidar sua posição como uma liderança independente ou se ainda precisará de mais uns anos para alcançar sua “maioridade política”, sem precisar dar a benção para os velhos nomes que com carinho o acolheram. Por sinal, não duvido que os belos dizeres proferidos pelo presidente da Câmara Federal, tenham sido escritos por um dos maiores responsáveis pelo triunfo de Motta, o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha. 

Mas como falar até papagaio fala....