Paulo Corrêa de Luca

Dia Internacional das Mulheres: Muito além das homenagens

O Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 8 de março, é frequentemente reduzido a flores, descontos comerciais e mensagens vazias sobre a "beleza e delicadeza" femininas. No entanto, essa data tem uma origem profundamente política e histórica, marcada por lutas intensas das mulheres por direitos básicos e dignidade.
A origem do 8 de março remonta às primeiras manifestações femininas por melhores condições de trabalho, salários justos e direito ao voto. No início do século XX, greves e protestos de operárias em fábricas têxteis nos Estados Unidos e na Europa pressionaram governos e sociedades a reconhecerem a exploração enfrentada por milhões de mulheres. Ao longo das décadas, a luta se ampliou para a conquista de direitos civis, políticos e sociais, resultando em avanços como o direito ao voto, a criminalização da violência doméstica e a busca pela igualdade salarial.
Apesar dessas conquistas, ainda há muito a se avançar. Um exemplo gritante é a sub-representação feminina na política brasileira. Mesmo sendo a maioria da população e do eleitorado, as mulheres ocupam menos 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado, sendo a segunda menor do G20. Na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, contamos com apenas três mulheres dentre as 40 cadeiras parlamentares.
A discrepância se mantém nos espaços de poder executivo, onde poucas governadoras e prefeitas são eleitas, refletindo uma estrutura política ainda dominada por homens. A desigualdade na política não é apenas uma questão de representatividade, mas de políticas públicas: a ausência de mulheres em cargos decisórios impacta diretamente a formulação de leis e programas que atendam às reais necessidades da população feminina.
Outro problema grave e frequentemente negligenciado é o impacto da falta de saneamento básico na vida das mulheres. Segundo dados do Instituto Trata Brasil, milhões de brasileiras vivem sem acesso adequado a água potável e esgotamento sanitário, realidade que afeta desproporcionalmente meninas e mulheres. Sem saneamento, mulheres precisam dedicar mais tempo ao cuidado da casa, são expostas a doenças e enfrentam dificuldades para estudar e trabalhar. Em muitas regiões, a falta de banheiros adequados em escolas leva ao abandono escolar de meninas durante o período menstrual. 18 milhões de brasileiras sairiam da pobreza se tivessem água e esgoto tratados, mas a dignidade feminina é comprometida pela ineficiência dos governos e pela falta de investimentos em infraestrutura.
Mudar essa realidade não é apenas um dever das mulheres, mas de toda a sociedade. É fundamental que homens se engajem na luta por equidade, que gestores públicos priorizem políticas de inclusão e que a população como um todo cobre mudanças estruturais. O Dia Internacional das Mulheres deve ser um marco de reflexão e ação, não apenas uma data no calendário. É um dia para lembrar das pioneiras que abriram caminhos, das que hoje seguem resistindo e das que virão para transformar o país.
Mais do que homenagens vazias, o 8 de março deve ser um chamado à luta contínua por uma sociedade mais justa, onde todas as mulheres tenham voz, espaço e direitos garantidos. Afinal, são elas que constroem, cuidam e transformam o Brasil, muitas vezes sem o reconhecimento devido.
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